Entrevista com professor da época da Ditadura

Entrevistado: Daltor Gomes

Formado em Ciências Humanas, Contabilidade e Direito

Foi professor do Estado e do Município.

Tem um currículo extenso na área da educação. Atuou no Colégio Zacarias, Miguel Couto Bahiense, Pré-vestibulares (Cps, Operon), Veiga de Almeida, Colégio Fluminense, Aydano de Almeida dentre outros.  Além de já ter sido compositor e hoje um renomado advogado.

A ditadura influenciou na educação?

R: Não. Havia muita investigação. Mas não houve influência, dava-se aula normalmente.

Você sofreu ou presenciou algum tipo de repressão naquela época?

R: Eu não sofri. Mas presenciei alguns amigos não só na área profissional da educação mas na área musical.

O que representa ditadura e democracia pra você?

R: Bem, ditadura nunca é bom. E a democracia poderia ser melhor, não a ponto de se parecer ditadura, mas ser organizada.

O grande problema dos regimes políticos não são os regimes, mas sim os políticos. No Brasil não existem políticos por vocação e sim por interesse, ressalvados alguns com raras exceções.

Um nome que te lembra todo esse período.

R: O grande artífice do movimento militar, o que na verdade não foi uma revolução. General Golberi do Couto, cabeça de todo movimento.

Fale sobre pontos negativos e positivos do período da Ditadura Militar.

R: Positivo porque havia fiscalização permanente impedindo fraudes e corrupções. Daí acontece o chamado “Milagre Brasileiro”. Além do combate aos tóxicos e obras realizadas como a ponte rio Niterói, elevado da perimetral, etc.

Negativo são inúmeras... mas vamos lá:

1º Dar cabo da vida de seus algosis.

2º Cercear o direito de imprensa (falada, escrita e televisada).

3º Toda opinião contrária aos seus propósitos ideológicos não eram permitidos.

4º O direito de ir, vir e ficar foi proibido.

5º A tortura, mecanismo mais abjeto que aconteceu (muitos foram torturados em cadeias do DOPS).

6º Os próprios autores, intérpretes, atores (artistas de um modo geral), eram vigiados e muitas vezes deportados e exilados. Assim também como muitos políticos e todos os demais segmentos da sociedade, quando não se identificavam à filosofia repressora.

Obs: Toda e qualquer coisa publicada em todos os âmbitos sofriam o crivo da ditadura.

7º Qualquer um que insurgisse contra a filosofia do regime, era completamente perseguido; por vezes cassados, torturados, e muitas vezes exterminados. Obs: Os xadrezes eram repletos de comunistas, socialistas, ou qualquer pessoa contrárias aos ditames. 

8º Portos, aeroportos, rodovias, rodoviárias, enfim, tráfegos aéreos, marítimos e terrestres, fronteiras, florestas... Tudo era controlado, chegando quase uma perseguição abjeta.

9º O lar tornou-se violável, porquanto tinham o direito de entrar e revistar residências e seus residentes.

10º No que se refere a música, e na época eu era muito envolvido, pois fazia várias composições, também havia muita perseguição. E dentre os que se destacaram podemos citar Geraldo Vandré, João Bosco etc.

   

E como você vê a educação nos dias de hoje?

R: Péssima. Os valores se inverteram, os quais impedem uma educação adequada.

Falta de instrumentalidade para bons professores bem intencionados, baixos salários, falta de reciclagem, a perda da autoridade docente, as regalias desacerbadas do corpo docente, o privilégio de minorias dominantes que ingressam nas melhores faculdades públicas, a calamidade social, a dignidade de ter bom emprego e bom salário a fim de que possa se estudar e educar adequadamente, desinteresse do governo por não interessar a eles uma educação esclarecedora e politizada a camada popular, para que o povo permaneça na ignorância e não insurja contra os seus desmandos, além de corrupções, fraudes, mentiras, enganos... Fatores que desmerecem a educação.

As instituições públicas, em todos os âmbitos, não tem interesse na educação popular. Esclarecimento? O povo quer é dignidade, não somente bolsa família para enganosamente só se alimente. Além de empregabilidade, condições de saúde e habitação para que tenhamos uma educação melhor e consequentemente um Brasil melhor.